Após passar meses, se não anos, anunciando fartamente – e impunemente – que irá tentar melar as eleições de 2022, Jair Bolsonaro promoveu nesta segunda-feira, 18, no Palácio da Alvorada, uma cerimônia de notificação do autogolpe à “comunidade internacional”, para já irem se acostumando com o que vem por aí, antes de voltarem aos negócios, aquele punhado de adidos comerciais.
Ontem, no Palácio do Alvorada, as duas primeiras filas do auditório improvisado eram de lugares reservados.
Na primeira estavam quatro civis: o chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, o chanceler Carlos Alberto França, Wagner do Rosário, ministro da Controladoria-Geral da União, e Celio Faria Junior, assessor especial de Bolsonaro;
Dois generais da reserva: Luis Eduardo Ramos, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, e Augusto Heleno, do GSI;
E um general da ativa: o ministro da Defesa, Paulo Sergio Nogueira, que naturalmente estava ali apenas com “espírito colaborativo”.
Atrás deles, na segunda fila, acomodaram-se, além do Advogado-Geral da União, Bruno Bianco, um general da reserva: Walter Braga Netto, sempre na retaguarda;
E dois militares da ativa: o almirante Flavio Rocha, todo-poderoso assessor especial da presidência da República, e, fardado, o general quatro estrelas Luis Carlos Gomes Mattos, presidente do Superior Tribunal Militar, em presença altamente simbólica em se tratando de um evento repleto de militares participando de um crime de lesa-pátria.

Na segunda fila havia uma cadeira vazia. Sentou-se ali, incorpóreo, mas presente no golpe, o terceiro grande líder do Centrão, além de Ciro Nogueira e Valdemar Costa Neto: Arthur Lira.
Na noite desta segunda-feira, 18, horas após a cimeira autogolpista no Alvorada, uma chamada no portal UOL convidava o leitor para ver “25 vezes em que Bolsonaro atacou o sistema eleitoral sem apresentar provas”.
Vinte e cinco vezes depois, portanto, Edson Fachin soprou, ou tentou – sem fôlego, por assim dizer, após tantos convites, finuras e ofícios -, a corneta contra o golpe: “negacionismo eleitoral é inaceitável”; “precisamos nos unir”; “é hora de dizer basta”.
Até agora, ninguém desembarcou não da candidatura de Jair Bolsonaro, que Bolsonaro, claro está, não está atrás de votos; até agora, dia seguinte à 25ª vez em que Bolsonaro atacou o sistema eleitoral sem apresentar provas, ninguém desembarcou do golpe de Jair Bolsonaro, nenhum chefe militar entregou o seu posto, nenhum governo estrangeiro manifestou-se oficialmente contra a escalada.

Não obstante, comentaristas de política insistem em dizer, também sem apresentar provas – ao contrário: contra elas – que Bolsonaro está “isolado”, “não tem apoio militar”, “enfrentará reação internacional” se levar o golpe adiante, como se o golpe já não estivesse em marcha.
O STF e o TSE – as “forças desarmadas” -, humilhados, parecem ainda estudar o adversário, mesmo no adiantado do segundo tempo e tomando de 7 a 1, com algum gol de honra marcado por Alexandre de Moraes.
Setores da esquerda apostam todas as fichas numa espécie de paráfrase (ainda) não dita da palavra de ordem da resistência ao golpe original, o de 2016: “não vai ter golpe, vai ter Lula”.