Semanas atrás, Octavio de Lazari Júnior, executivo-chefe do Bradesco, apresentou-se de maneira que os comentaristas de política costumam chamar de “dúbia”, posto que muito clara, dado o contexto: o “soldado 939 Lazari ao seu comando” gravou um vídeo enaltecendo o Exército Brasileiro no momento em que o comando das Forças Armadas irmanam-se a Jair Bolsonaro em movimentações autogolpistas.
Tudo sob o silêncio do seu chefe, o presidente do conselho de administração do banco, o que bastou para dar conotação algo literal ao sobrenome do chairman – Trabuco.
Agora, nesta segunda-feira, 18, os mesmos comentaristas de política talvez digam sobre Luiz Carlos Trabuco Cappi o que dizem, por exemplo, sobre o general Paulo Sergio Nogueira sempre que o ministro da Defesa se diz com “espírito colaborativo” entre um e outro ataque que tem feito às eleições: que manifestou “compromisso com a democracia”.
É que nesta segunda, em artigo publicado no Estadão, Trabuco defende o sufrágio universal, ainda que à sua maneira, que é maneira de quem já disse que “a reforma da previdência é mais importante que a eleição”.
No artigo, o chairman do Bradesco classifica as eleições como “métrica consolidada das questões políticas” para acompanhamento de “incertezas que geram sobressaltos nos mercados”. Indo além, Trabuco diz que as eleições estão para as “questões políticas” como os Credit Default Swap (CDS) estão para as questões de risco de solvência dos países.
Parece mesmo, vai, espírito colaborativo…
‘Associei-me’. Dissociou-se?
Em seu artigo desta segunda no Estadão, Luiz Carlos Trabuco diz que descobriu agora, no fim de junho, durante um fórum jurídico organizado por Gilmar Mendes em Lisboa, Portugal, que o Brasil precisa de “um instrumento que teria o poder de elevar as políticas sociais ao patamar de uma questão de Estado, e não de governos”.
“Associei-me ao espírito de uma Lei de Responsabilidade Social”, anuncia Trabuco.
Resta saber se este grande apologista do Teto de Gastos, instrumento precisamente do contrário, ou seja, de embargar a consolidação de políticas sociais; resta saber, dizíamos, se Trabuco mudou de ideia ou se apenas baixou a baioneta apontada sempiterna contra o povo brasileiro para tentar se viabilizar como ministro da Fazenda de um eventual governo Lula.
Seria uma mudança de ideia também: no fim de 2014, Lula indicou a Dilma Rousseff o nome de Trabuco para suceder Guido Mantega na Fazenda. Trabuco, à época CEO do Bradesco, citou compromissos incontornáveis com o banco e recusou o convite, abrindo caminho para Joaquim Levy.
Psicanálise
O que mais chama atenção no artigo de Luiz Carlos Trabuco no Estadão, porém, não é o que ele diz; é o que ele não diz, ou melhor, o que ele parece não conseguir dizer, nem sob o efeito de alguma iluminação sob o céu de Lisboa.
No final do texto, Trabuco menciona a necessidade de “instrumentos de acompanhamento para a desigualdade”.
“Acompanhamento para a desigualdade”? Por algum mecanismo inconsciente de bloqueio, o chairman do banco que em 2021 registrou o lucro recorde de R$ 26 bilhões, em um país faminto, não pôde falar em combatê-la.
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