“Exaustão marca o emocional dos chefes durante a pandemia”, noticia a Folha de S.Paulo neste domingo, 22, na página A20, citando pesquisa segundo a qual 88% dos presidentes, vice-presidentes, conselheiros e diretores de grandes empresas que operam no Brasil “nunca tinham vivido crise igual”.
Na Folha Online, o título da matéria é “Exaustão, mais álcool e medo da morte marcam emocional dos chefes na pandemia”.
Num país em que o socorro do Estado à gente pobre durante a pandemia tem sido pífio e humilhante, o resultado é a inviabilização do isolamento físico, o agravamento da crise alimentar – da fome – e da crise de moradia, entre outras desgraças adicionais para quem já tem a vida como pena independentemente da situação sanitária.
O maior jornal do país, porém, não enrubesce ao publicar, para ilustrar o “burnout do alto escalão”, que um vice-presidente de uma grande rede de varejo “não estava preparado” para conviver “com outra intensidade” com sua esposa e que, na pandemia, passou a “comer mais, beber mais”.
Igualmente sem corar – e sem contestar -, a Folha põe em tintas a afirmação da autora da pesquisa de que a pandemia afetou o cotidiano de todos, “não importa se você mora em 30 ou em 300 metros quadrados”.
Segundo a mesma pesquisadora, esses condenados da cidade, pobres diabos do “alto escalão”, andam angustiados e deprimidos ainda mais porque “recebem toda frustração dos subordinados”.
Bem que os subordinados deste país, estes insaciáveis vampiros emocionais que sugam a vitalidade dos seus chefes, bem que poderiam dar uma folga a quem, nesta toada, vai acabar não conseguindo “engajar a equipe”.
Mas, ainda segundo a pesquisadora, o mal-estar da pandemia que se abateu sobre maganos “sem norte, sem chão”, esse mal-estar “não é algo que se resolve com um dia de folga, mas com a percepção de que os líderes são gente de carne e osso”.
Domingo é o dia de folga, aliás, dos entregadores do Mercado Livre que de segunda a sábado voam baixo pelas cidades para entregar encomendas feitas na modalidade fulfillment, com promessa de entrega em 24h que, num cenário de disparada das compras online por causa da pandemia, só pode mesmo ser cumprida mijando muito em garrafinhas e tocando campainhas desde a primeira hora até tarde da noite, com ou sem medo de morrer.
Como estão de folga, os entregadores do Mercado Livre poderão se informar pela Folha sobre como estamos todos, os de 30 ou de 300 metros quadrados, igual e democraticamente fodidos.
E, muito importante, não importa tampouco se o “mais álcool” para afogar as incertezas da vida é um litrão de cerveja impuro malte, uma garrafa de Velho Barreiro ou uma de Angelica Zapata Malbec a R$ 300 no Mercado Livre, com frete grátis e entrega full, em parceria com grandes redes de varejo.
Talvez o autor do relato publicado pela Folha seja vice-presidente de uma delas.
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