A Escola de Mecânica da Armada (ESMA) é o símbolo mais emblemático dos horrores da mais recente ditadura civil-militar na Argentina. Naquele famigerado centro de detenção, tortura e extermínio encravado no bairro de Nuñez, na zona norte de Buenos Aires, foram cometidos crimes contra a humanidade que ainda estão sendo investigados e julgados nos tribunais argentinos. Estima-se que cinco mil dos 30 mil argentinos sequestrados e desaparecidos pela ditadura passaram pela Esma, passando por suplícios, entre 1976 e 1983.
Hoje, no velho prédio da ESMA, na Avenida del Libertador 8151, Nuñez, Cidade Autônoma de Buenos Aires, funciona o Espaço Memória e Direitos Humanos Ex-ESMA.
O Espaço Memória Ex-ESMA foi criado em 2004, no governo Néstor Kirchner, visando preservar a memória e ajudar na compreensão de como o terrorismo de Estado foi possível na Argentina no passado ainda fresco e das suas consequências no indicativo presente, a fim de contribuir para a consolidação de uma cultura democrática e de respeito aos direitos humanos.
“A existência material e espacial da ESMA é uma denúncia viva e uma prova dos crimes do terrorismo de Estado”, diz a comunicação institucional da casa.

Em março, o Espaço Memória Ex-ESMA lançou o projeto “A Esma e o Bairro”, que tem como objetivo investigar a relação histórica do bairro de Nuñez com a ESMA por meio de depoimentos dos vizinhos da ex-masmorra; que “dialoga com o ambiente urbano do Espaço Memória para reconstruir a história da antiga ESMA por meio da memória da vizinhança”.
Memória?
No último domingo, 37.342 moradores de Nuñez saíram de casa para votar no segundo turno da eleição presidencial – 76% de participação. Destes, 59,5% – 22.235 pessoas – votaram na chapa Milei-Villarruel, índice superior aos 55,7% dos votos conquistados no total, em toda a Argentina, pela chapa negacionista dos crimes da ditadura.
No início de outubro, Javier Milei disse em um debate que “não foram 30 mil desaparecidos, são 8.753”, citando um número burocrático que todos na Argentina sabem ser brutalmente subestimado. Na semana passada, às vésperas do “ballotage”, Victoria Villarruel botou o Espaço Memória Ex-ESMA na mira do Plano Motosserra de Milei: “a ESMA tem 17 hectares que poderiam ser desfrutados por todo o povo argentino”.
Às vésperas do “ballotage”, Victoria Villarruel disse que para a Argentina sair da crise, só com “tirania”.
Na Zona Eleitoral 0134, uma das quatro de Nuñez e onde fica a velha ESMA, o índice de votos em Milei-Villarruel foi ainda maior que o de todo o bairro e mais de 10 pontos acima do total nacional. Entre a vizinhança imediata da matadouro, 66,17% – 4.092 pessoas – sufragaram a chapa da reabilitação dos carniceiros.
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