A extrema-direita e seus apensados sem glúten, amálgama classificado pela crônica jornalística como “oposição”, preparam-se para fazer a festa na CPI do 8/1 com a reportagem publicada nesta quarta-feira, 14, pela Folha confirmando, segundo apuração do jornal, ter sido o general Gonçalves Dias o responsável pela adulteração de um relatório da Abin sobre o 8/1 enviado à Comissão Mista de Controle de Atividades de Inteligência do Congresso Nacional (CCAI) logo após os ataques à Praça dos Três Poderes.
Nomeado por Lula para o GSI, GDias, como o general é conhecido, mandou rapar do relatório alertas sobre ameaças de ataques que ele tinha recebido da Abin por WhatsApp, sob o argumento de que os alertas de golpe não tinham chegado por canal oficial.
A “oposição” vai juntar a novidade trazida pela Folha com imagens de GDias à paisana, algo sereno, no Palácio do Planalto no 8/1 e de seus agentes servindo água a terroristas para reforçar a, digamos, exegese de que o governo Lula deixou o 8/1 acontecer.
Sandices à parte, a novidade trazida pela Folha reforça apenas o que até os granitos e mármores do Congresso sabem muito bem, mas que o melindre institucional atávico diante de milicos impede até mesmo a menção: a CPI que o Brasil precisa para passar a limpo o 8/1 é uma CPI das Forças Armadas.
Uma CPI para investigar o fato determinado, determinadíssimo, de que o 8/1 foi o zênite de um processo urdido e concatenado por círculos militares integrados por altos oficiais da ativa e da reserva, desde os ataques às urnas eletrônicas, passando pelo abraço aos acampamentos golpistas e chegando à complacência, para não não dizer camaradagem, com os terroristas no dia mesmo dos ataques.
Um processo consecutivo à agitação na caserna contra a Comissão Nacional da Verdade, ainda no governo Dilma; à volta dos militares ao centro da cena política brasileira, no governo Temer, após o caso Joesley; à entrada de coturno dos militares na lawfare contra Lula, em 2018, com a ameaça do então comandante do Exército, general Villas-Bôas, ao STF na véspera do julgamento do Habeas Corpus que poderia pôr Lula nas eleições daquele ano; à decisão do Estado-Maior do Partido Militar de cavalgar o ex-capitão Jair Bolsonaro para voltar a encher de militares o Palácio do Planalto e a Esplanada dos Ministérios, décadas após o fim da ditadura, enquanto a Argentina e o Chile enjaulavam centenas de gorilas.
Enquanto não vem uma CPI das Forças Armadas ou qualquer outra movimentação mais consequente do Estado brasileiro para que o lema “sem anistia” não caia em letra morta, o general Paulo Sergio Nogueira de Oliveira, por exemplo, goza de sua reserva remunerada em alguma piscina de clube militar após passar meses centrando fogo no sistema brasileiro de votação eletrônica, quando ministro da Defesa do governo Bolsonaro.
O chefe da equipe de militares que o general Paulo Sérgio montou para esse fim, o coronel Marcelo Nogueira de Sousa, não só segue sem ser incomodado como até ganhou uma medalha, a mais importante do Exército, e já no governo Lula.
Já no governo Lula, o almirante Flávio Rocha, “sombra” e “homem secreto” de Bolsonaro e que teve papel ativo na reunião de Bolsonaro com embaixadores para atacar as urnas eletrônicas, foi nomeado assessor do novo comandante da Marinha, Marcos Olsen.
Já os generais Gustavo Henrique Dutra de Menezes e Julio Cesar de Arruda, que eram, respectivamente, comandante militar do Planalto e comandante do Exército no 8/1, seguem tocando a vida como se não tivessem ameaçado abrir fogo contra forças policiais sob comando civil, a fim de dar guarida, quem sabe dar fuga, aos “patriotas” que o Exército acalentou.
Seguem tocando a vida os generais Braga Netto, Augusto Heleno, etc. À exceção do tenente-coronel Mauro Cid, preso, seguem, os milicos, todos tocando a vida.
“Os caras já morreram tudo, pô”, disse em abril do ano passado, rindo-se, o então vice-presidente da República, Hamilton Mourão, sobre a possibilidade de novas investigações de torturas e torturadores da ditadura. De fato, a maioria dos golpistas de outrora estão bem mortos. Por seu turno e coturno, os golpistas do indicativo presente estão aí, pô, “tudo vivo”, na ativa ou na reserva, e até agora à vontade para tentarem outra vez.