Luis Inácio Lula da Silva foi muito bem na entrevista que deu ao Jornal Nacional nesta quinta-feira, 25, sapateando na bancada do JN enquanto William Bonner e Renata Vasconcelos passaram 40 minutos martelando temas pinçados dos piores preconceitos que grassam nas classes médias contra o Partido dos Trabalhadores: corrupção, MST, Venezuela, “nós contra eles”, etc.
Num paroxismo deste jornalismo pautado pelo antipetismo mais pedestre, Bonner chegou a dizer a Lula que, “durante muito tempo, a militância do PT, estimulada muitas vezes pelo senhor, foi muito agressiva com quem pensava diferente, e não só na internet”.
A afirmação soa mesmo inacreditável porque, se não por mais nada, um apoiador de Jair Bolsonaro acabou de assassinar a tiros um dirigente do PT em Foz do Iguaçu e o episódio não mereceu menção na entrevista da última segunda-feira, 22, no JN, quando quem estava na berlinda era o incentivador de “metralhar a petralhada” que vem armando sua militância com fuzis.
Em seguida, Bonner disse que “é um fato” que Lula passou anos “dividindo o Brasil entre nós e eles”. Posto que discutível em alguns aspectos, a reposta de Lula é, dadas as circunstâncias, digna de nota.
Transcrevemos:
“A polarização é saudável no mundo inteiro. Tem polarização nos EUA, na Alemanha, na França, na Noruega, tem na Finlândia. Não tem polarização no Partido Comunista Chinês. Não tinha polarização no Partido Comunista de Cuba. Agora, quando você tem Democracia, a polarização é saudável. Ela é importante. Ela é estimulante. Ela faz a militância ir para a rua. Ela faz a militância carregar bandeiras. O que é importante é que a gente não confunda polarização com estímulo ao ódio. Eu me dou bem com o PSDB, que foi meu principal adversário durante muito tempo. E depois, Bonner, é o seguinte: eu aprendi na minha vida a conversar com os contrários. Tem uma frase do Paulo Freire que é fantástica, que eu utilizei para mostrar aos militantes do PT a importância da entrada do Alckmin: ‘de vez em quando, a gente precisa estar junto com os divergentes para vencer os antagônicos’, e agora nós precisamos vencer o antagonismo do fascismo”.