Nos últimos dias, dois dos maiores jornais do Brasil, O Estado de S.Paulo e a Folha de S.Paulo, publicaram reportagens dando conta de que os comandantes das Forças Armadas planejam dar posse aos indicados por Lula já em dezembro, antes da posse de Lula, o que, segundo as reportagens, causou estranheza na equipe de transição.
Segundo as apurações tanto do Estadão quanto da Folha, Jair Bolsonaro estaria disposto a assinar os decretos de nomeação dos escolhidos por Lula para comandar o Exército, a Marinha e a Aeronáutica, ainda que os nomes não tenham sido sequer anunciados pelo novo governo.
De fato, é muito estranho. Se não por mais nada, simplesmente porque o aceno com uma aparente colher de chá parte de chefes militares bolsonaristas e de quem hoje trabalha à luz do dia para manter abrasadas as manifestações golpistas na frente dos quartéis, entre inúmeras outras tentativas de boicote ao novo governo.
A hipótese de os atuais comandantes estarem agindo para não terem de chegar a prestar continência a Lula não parece compatível com o tamanho do contrassenso.
Nas reportagens, os nomes apontados como os prováveis indicados por Lula para os comandos da Marinha e da Aeronáutica são os do almirante de esquadra Renato Rodrigues de Aguiar Freire e do tenente-brigadeiro do ar Marcelo Kanitz Damasceno.
Na semana passada, porém, foram publicados no Diário Oficial da União decretos de Jair Bolsonaro passando tanto o almirante Aguiar Freire quando o brigadeiro Damasceno para a reserva:


Aguiar Freire e Damasceno são dois dos vários altos oficiais dos comandos das três forças que na semana passada foram passados para a reserva. Eles também foram exonerados das chefias, respectivamente, do Estado-Maior da Armada e do Estado-Maior da Aeronáutica, cargos que vinham ocupando.
Na semana passada, uma edição extra do DOU trouxe também a exoneração de 19 almirantes, vice-almirantes ou contra-almirantes de cargos do Comando do Marinha.

No dia 22 foram publicadas no DOU 16 mudanças em cargos do Comando do Exército. Mera rotina? Talvez.
Outra notícia que causa estranheza é a possibilidade de o comando do Exército ser entregue por Lula ao general Valério Stumpf.
Em 2021, quando era comandante militar do Sul, Stumpf, oficial da ativa, colaborou com a urdidura do “Projeto de Nação – O Brasil em 2035”, plano de combate ao “globalismo” e de ditadura reloaded bolado pelos generais da reserva Eduardo Villas Boas e Luiz Eduardo Rocha Paiva, com apoio de Hamilton Mourão.
Em maio de 2022, Stumpf foi nomeado por Bolsonaro para a chefia do Estado-Maior do Exército, cargo que ocupa até hoje.